Trigo: Tudo o que precisa saber sobre Alergia, Doença Celíaca e Dietas Sem Glúten
O trigo, um cereal milenar presente na base da alimentação humana em diversas culturas, oferece um rico perfil nutricional. No entanto, para alguns indivíduos, o consumo deste grão pode desencadear reações patológicas distintas, exigindo atenção e medidas específicas. Neste artigo, exploraremos o universo do trigo, desvendando os mistérios das alergias alimentares, da doença celíaca e das dietas sem glúten.
- Alergia ao Trigo: Uma Reação Imunológica Imediata
A alergia alimentar ao trigo é uma resposta imunológica anormal à ingestão de proteínas presentes no grão, como as albuminas, globulinas e gliadinas. As reaçõs podem ocorrer também por contacto ou inalação.
Os sintomas da alergia surgem rapidamente, geralmente em minutos ou horas após o consumo, e podem incluir:
- Reações cutâneas: urticária, comichão, vermelhidão e inchaço.
- Sintomas gastrointestinais: náuseas, vómitos, diarreia, cólicas abdominais.
- Reações respiratórias: asma, rinite, tosse, dificuldade em respirar.
- Casos graves: anafilaxia, uma reação alérgica grave que envolve vários órgãos e sistemas e que pode ser fatal.
O diagnóstico da alergia ao trigo é feito através de testes cutâneos ou exames de sangue que detetam os anticorpos IgE específicos para proteínas do trigo. O tratamento consiste na evicção rigorosa do trigo e seus derivados na dieta. Medicamentos como anti-histamínicos, corticosteroides e adrenalina podem ser utilizados para controlar os sintomas quando necessário.
As doenças alérgicas relacionadas com o trigo podem ser variadas, por vezes com manifestações similares, mas com diferentes formas de diagnóstico:
- alergia alimentar ao trigo clássica (mediada por IgE), descrita acima;
- alergia ao trigo não IgE mediada, como a enterocolite induzida por proteínas alimentares (EIPA ou FPIES);
- alergia ao trigo mista (IgE mediada e não IgE mediada), como a esofagite e gastrite eosinofílicas;
- anafilaxia induzida por exercício dependente de trigo;
- alergia respiratória ao trigo e gramíneas, como a asma de padeiro;
- urticária de contacto.
- Doença Celíaca: Uma Agressão Autoimune Silenciosa
A doença celíaca é uma doença autoimune sistémica desencadeada pelo consumo de glúten, uma proteína presente no trigo, centeio, cevada, espelta e outras espécies de trigo. O glúten causa danos às vilosidades intestinais, dificultando a absorção de nutrientes essenciais. Os sintomas da doença celíaca podem ser variáveis e subtis, incluindo:
- Diarreia crónica: a principal característica, podendo ser aquosa, gordurosa ou volumosa.
- Perda de peso: sem causa aparente, devido à má absorção de nutrientes.
- Fadiga: cansaço persistente, falta de energia.
- Dor abdominal: desconforto e dor na região da barriga.
- Outros sintomas: anemia, osteoporose, problemas de fertilidade, alterações de humor.
O diagnóstico da doença celíaca é realizado através de exames de sangue que detetam anticorpos específicos e, em alguns casos, biópsia intestinal. O tratamento consiste na exclusão rigorosa do glúten da dieta para toda a vida. Essa medida permite a recuperação das vilosidades intestinais, a melhoria dos sintomas e a prevenção de complicações. Saiba mais sobre a doença celíaca no nosso artigo.
- Dietas Sem Glúten: Além da Alergia e da Doença Celíaca
Embora a alergia ao trigo e a doença celíaca sejam as principais razões para a adoção de uma dieta sem glúten, existem outras situações em que essa escolha pode ser benéfica:
- Sensibilidade ao glúten não celíaca: apresenta sintomas semelhantes à doença celíaca, mas sem a lesão intestinal característica nem anticorpos específicos.
- Ataxia glúten-sensitiva: uma doença neurológica rara causada pela ingestão de glúten em indivíduos geneticamente predispostos.
- Dermatite herpetiforme: uma doença autoimune da pele que pode ser desencadeada pelo consumo de glúten em pessoas com predisposição genética.
- Doença inflamatória intestinal: alguns estudos sugerem que a dieta sem glúten pode ser benéfica para pacientes com doença de Crohn, colite ulcerosa.
- Intolerância a FODMAP: produtos isentos de glúten parecem ter algum benefício em indivíduos com sensibilidade a FODMAP e síndrome de intestino irritável, uma vez que estes produtos alimentares sem glúten têm também, quase sempre, quantidades muito reduzidas de frutanos e oligossacáridos.
- Autismo: pesquisas preliminares indicam que a dieta sem glúten pode melhorar os sintomas de autismo em alguns casos.
Saiba que alimentos e ingredientes deve evitar no caso de seguir uma dieta sem trigo ou sem glúten, no nosso artigo.
É importante salientar que a adoção de uma dieta sem glúten deve ser sempre orientada por um profissional de saúde, como nutricionista ou médico. A automedicação e a exclusão indiscriminada de alimentos podem levar à carência de nutrientes essenciais e prejudicar a saúde.
- Desmistificando o Universo do Trigo e Glúten
O trigo, um alimento com uma história rica e complexa, é frequentemente cercado por mitos e equívocos. É crucial desmistificar algumas crenças populares para promover uma relação mais saudável com este grão:
- Mito: O trigo é prejudicial para todos.
A maioria das pessoas pode consumir trigo sem problemas. Apenas indivíduos com alergia ao trigo, doença celíaca ou outra indicação médica precisam evitá-lo rigorosamente.
- Mito: A dieta sem glúten é a solução para todos os problemas de saúde.
A dieta sem glúten é benéfica apenas para pessoas com alergia ao trigo, doença celíaca ou outras condições específicas. Para a população em geral, não há comprovação científica de que ela traga benefícios adicionais à saúde.
- Mito: Todos os produtos sem glúten são saudáveis.
Alguns produtos sem glúten podem ser ricos em açúcar, gorduras saturadas e sódio. É importante ler os rótulos nutricionais com atenção e escolher opções saudáveis.
- Mito: É difícil seguir uma dieta sem glúten.
Com planeamento e organização, é possível seguir uma dieta sem glúten de forma prática e saborosa. Existem diversos produtos sem glúten, além de receitas deliciosas que podem ser preparadas em casa. Veja os produtos sem glúten e sem trigo que temos para si.
- Mito: Consumir produtos sem glúten sem doença associada é prejudicial.
O consumo esporádico de alimentos sem glúten em pessoas saudáveis não é prejudicial desde que sejam parte integrante de uma dieta variada e equilibrada. O que pode ser prejudicial é a exclusão completa do glúten da dieta sem necessidade clínica.
Conclusão
O trigo, quando consumido com moderação e dentro de uma dieta equilibrada, pode ser um alimento nutritivo e saboroso. Para aqueles que apresentam alergia ao trigo ou doença celíaca, a adoção de uma dieta de exclusão é essencial para a saúde e o bem-estar. É importante buscar orientação profissional para garantir uma alimentação completa e adequada às suas necessidades individuais.
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Fontes Bibliográficas:
1. F. Ferreira and F. Inácio, 2018. “Patologia associada ao trigo: Alergia IgE e não IgE mediada, doença celíaca, hipersensibilidade não celíaca, FODMAP”, Rev. Port. Imunoalergologia, vol. 26, no. 3, pp. 171–187.2.
2. Grupo de Interesse de Alergia a Alimentos da SPAIC, 2019. “Alergia Alimentar: conceitos, conselhos e precauções”, 2a Edição. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica com apoio de Thermo Fisher.
3. APN, 2014. “Alimentação na Doença Celíaca”, Coleção de E-books APN, vol. 34. Porto: Associação Portuguesa dos Nutricionistas.